segunda-feira, março 29, 2004

Padres-Operários

Lamentável a reportagem que o Expresso deste último Sábado, na sua revista Única, dedica aos dois últimos padres-operários no activo, apresentando-os presunçosamente como modelos exemplares de prossecução da justiça, demonstrando mais uma vez à saciedade a conta em que tal pasquim tem o rigor e a isenção jornalística.

Na verdade, é deplorável constatar como esses dois padres objecto da dita reportagem se afastaram por completo de toda a fé, tradição e magistério social da Igreja Católica, abraçando um evangelismo político-militante de crassa raiz materialista consubstanciado na Teologia da Libertação, que, reinterpretando (e, consequentemente, deformando e deturpando) à luz da ideologia marxista conceitos basilares do Cristianismo, tem por fim último a transformação das relações e das estruturas materiais de produção em ordem à realização da sociedade socialista, a qual é absurdamente identificada com o Reino de Deus. É triste ver como os ditos padres, adoptando a agressiva praxis comunista e o seu modelo de acção baseado na luta de classes, não hesitaram em tornar-se companheiros de jornada de uma ideologia que tem por motores a inimizade, o ressentimento, a inveja e ódio, ou seja, radicalmente oposta ao Cristianismo (intrinsecamente perversa, chamou-lhe Pio XI, na "Divini Redemptoris" ). É, enfim, lastimável verificar como os preditos padres deformaram os fins últimos da religião de que se dizem servidores, não manifestando a mais leve e aparente preocupação com aquela que deveria ser a sua primeira e principal preocupação de sacerdotes: o bem-estar espiritual das almas que têm a seu cargo, com vista à salvação das mesmas para a eternidade.

A este propósito para contrabalançar a desinformação modernista, convém recordar que o movimento dos padres-operários foi formalmente condenado pelo Papa Pio XII em 5 de Novembro de 1953, e somente o laxismo que se instaurou na Igreja após o Concílio Vaticano II possibilitou o seu ressurgimento, agora com a conivência criminosa de vários bispos progressistas.

Já na Encíclica "Menti Nostrae", de 23 de Setembro de 1950, aquele grande Papa havia alertado para os perigos decorrentes da chamada heresia da acção. Assim:

"Por esse motivo, enquanto rendemos o devido louvor a quantos, na afanosa reparação deste triste pós-guerra, movidos pelo amor de Deus e pela caridade para com o próximo, sob a direcção e seguindo o exemplo dos bispos, consagraram todas as suas forças para remediar tantas misérias, não nos podemos abster de exprimir a nossa preocupação e a nossa ansiedade por aqueles que, por especiais circunstâncias do momento, se deixaram levar pelo vórtice da actividade exterior, assim como a negligenciar o principal dever do sacerdote, que é a santificação própria. Já o dissemos em público documento que devem ser chamados a melhores sentimentos quantos presumam que se possa salvar o mundo por meio daquela que foi justamente designada como a "heresia da acção": daquela acção que não tem os seus fundamentos nos auxílios da graça, e não se serve constantemente dos meios necessários à obtenção da santidade, que Cristo nos proporciona. Do mesmo modo, porém, estimulamos às obras do ministério aqueles que, trancados em si mesmos e duvidosos da eficácia do auxílio divino, não se esforçam, segundo as próprias possibilidades, por fazer penetrar o espírito cristão na vida quotidiana, em todas as formas que os nossos tempos reclamam.

(…)

A época em que vivemos sofre de grave perturbação em todos os terrenos: sistemas filosóficos que nascem e morrem, sem em nada melhorarem os costumes; monstruosidade de certa arte, que no entanto pretende julgar-se cristã; critérios de governo que em muitos lugares se convertem antes na opressão dos cidadãos do que em bem comum; métodos de vida e de relações económicas e sociais em que correm maior perigo de vida os honestos do que os velhacos. Daí deriva quase naturalmente que não faltem de todo em nossos tempos sacerdotes infectados, de alguma maneira, de semelhante contágio, e que manifestam opiniões e levam um teor de vida, até no modo de vestir-se e cuidar de si, inteiramente contrários tanto à sua dignidade como à sua missão; que se deixam empolgar pela mania de novidades, seja no pregar aos fiéis, seja no modo de combater os erros dos adversários; e que comprometem, portanto, não somente a sua consciência, mas ainda a sua boa fama e, então, a eficácia do seu ministério".

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