sábado, junho 24, 2006

Saudades de Saint Nicholas du Chardonnet - 2


Um dos nossos amigos do Cornell Catholic Circle veio até à Europa para participar na peregrinação tradicional entre Paris e Chartres e, de regresso à capital francesa, passou por Saint Nicholas du Chardonnet, deixando neste artigo as suas impressões acerca de tal passagem. É curioso como me recordou o que eu próprio escrevi sobre essa igreja parisiense em Outubro do ano passado. Aqui o relembro agora, e a algo mais ainda:

- 12 de Outubro, Missa Solene em Saint Nicholas du Chardonnet. Apesar de ser final de tarde de um dia útil, a belíssima igreja parisiense tinha cerca de dois terços da sua lotação ocupada, boa parte dela por jovens que os modernistas bem gostariam de ver presentes nos seus enfadonhos e paupérrimos serviços religiosos. Contudo, que pode um rito totalmente artificial, nascido torto e nunca endireitado, contra o rito latino-gregoriano de sempre e de todos os santos, quinze vezes secular, e que expressa, com toda a reverência e sacralidade, a grandiosidade da fé católica? Depois de hora e meia de intensa espiritualidade, para a qual o latim, o incenso, a música de órgão, e o cântico gregoriano deram uma poderosa ajuda, e sem que ninguém arredasse pé ou mostrasse enfado, a Missa terminou com fiéis a cantarem o "Avé de Fátima" em francês; alguns, porém, e não apenas eu, como o confirmaram os meus ouvidos, fizeram-no em português.

- Nos dias seguintes, estive de novo em Saint Nicholas: numa delas, enquanto se celebrava a Missa no altar-mor, constatei que num dos altares laterais, exactamente o dedicado a São Nicolau, se rezava simultaneamente outra Missa. Contrariando-se o abuso modernista das concelebrações, reafirmava-se assim a boa doutrina tradicional sustentada pelo Papa Pio XII, na encíclica "Mediator Dei": "Toda a vez, com efeito, que o sacerdote repete o que fez o divino Redentor na última ceia, o sacrifício é realmente consumado e tem sempre e em qualquer lugar necessariamente e por sua intrínseca natureza, uma função pública e social, enquanto o ofertante age em nome de Cristo e dos cristãos, dos quais o divino Redentor é Cabeça, e oferece a Deus pela Santa Igreja Católica e pelos vivos e defuntos. E isso se verifica certamente, quer assistam os fiéis - e desejamos e recomendamos que estejam presentes numerosíssimos e fervorosíssimos - quer não assistam, não sendo de nenhum modo requerido que o povo ratifique o que faz o sagrado ministro". Quantas mais Missas ditas, tanto melhor!

- Por contraposição, para além da passagem sempre obrigatória por Notre-Dame, visitei mais duas igrejas: Saint Roch, nas Tulherias, e Saint Paul et Saint Louis, no Marais. Ambas erigidas em magnífico estilo neoclássico, a segunda na sua variante triunfal jesuítica, o interior delas é uma autêntica metáfora do que o modernismo fez ao Catolicismo: apesar de ser ainda bem visível a sua grandiosidade de antanho, mostram-se terrivelmente vazias, desmazeladas, desprezadas e envelhecidas. As capelas laterais abandonadas, os confessionários transformados em locais de arrecadação, as imagens e pinturas em notória deterioração, pairando no ar um estado geral de degradação. Em Saint Roch, foi-me especialmente penoso ver um lindíssimo altar-mor privilegiado, encimado por uma impressionante escultura maneirista da Sagrada Família, votado ao ostracismo em nome da infame reforma litúrgica, com o seu santuário profanado por um nojento caixote de madeira forrado em veludo vermelho, que supostamente faz as vezes de mesa nas refeições memoriais modernistas.

JSarto

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