domingo, julho 15, 2007

Os bispos portugueses e o Motu Proprio "Summorum Pontificum"


Há um ano e meio atrás, analisei neste espaço a atitude hostil dos bispos portugueses face à Missa tradicional de rito latino-gregoriano, lamentando que Portugal fosse o único país europeu, entre aqueles com uma população de maioria católica - ao menos, em termos nominais -, onde não se celebrasse uma só Missa de rito tradicional em qualquer uma das suas dioceses.

Concluí tal análise afirmando:

Porquê esta hostilidade dos bispos portugueses ao rito quinze vezes secular da Igreja do Ocidente? Por muito estranho que isto possa parecer a alguns fiéis católicos bem intencionados mas pouco alertados, no episcopado nacional, sob uma aparência de conservadorismo, esconde-se um modernismo extremo e radical, frio, reflexivo, astuto, a roçar o cinismo puro, e por isso muito mais pernicioso e eficaz no transmitir da sua mensagem de abominação a tudo o que é verdadeiramente católico do que o modernismo exuberante e radical, misto de imoralidades chocantes e momices apalhaçadas, dos bispos do Norte da Europa e dos Estados Unidos.

Ora, a verdade é que um destes dias, do alto da sua pesporrência, Suas Excelências Reverendíssimas são capazes de ter uma enorme surpresa…

Entretanto, a surpresa chegou com a publicação do Motu Proprio "Summorum Pontificum", de Sua Santidade o Papa Bento XVI, que restaura a Missa de rito tradicional latino-gregoriano na plenitude dos seus direitos e mediatamente confirma o conteúdo da Bula "Quo Primum", de São Pio V - ver artigos 2º e 4º daquele.

Todavia, acontece que os mesmíssimos Bispos que sabotaram completamente a aplicação do Motu Proprio "Ecclesia Dei", do Papa João Paulo II - em Portugal, a Missa tradicional persiste exclusivamente graças ao apostolado infatigável da Fraternidade Sacerdotal de São Pio X -, preparam-se agora, e já que não o podem bloquear, para minimizar tanto quanto possível o alcance do Motu Proprio "Summorum Pontificum", mostrando assim todo o seu desdém por uma legítima decisão papal que os atinge no mais profundo das suas convicções de hereges modernistas e progressistas.

Deste modo, estes maus pastores, verdadeiros lobos com pele de cordeiro e autênticos cismáticos práticos no sentido efectivo do termo, revelando igualmente não terem percebido nada do que o Papa escreveu na carta anexa ao Motu Proprio e que os tinha como destinatários - se é que chegaram sequer a lê-la… -, não hesitam em ofender os devotos da Missa tradicional, pretendendo reduzi-los, numa imensa demonstração de falta de honestidade intelectual e caridade cristã, a um bando de saudosistas, nostálgicos e românticos.

Por exemplo, o Bispo-Auxiliar de Lisboa e secretário da Conferência Episcopal Portuguesa, D. Carlos Azevedo, pretendendo tomar os seus desejos pela realidade, declarou que o "Motu Proprio" terá pouco impacto em Portugal; que a sua aplicação será solicitada apenas por grupos minoritários de saudosistas e nostálgicos; e que a maior parte dos padres portugueses nem sequer sabe celebrar o rito tradicional, dizendo inadvertidamente muitíssimo acerca do estado de degradação a que quarenta anos de modernismo e progressismo desenfreados conduziram a Igreja em Portugal (e a verdade é que a Missa de rito latino-gregoriano também não precisa para nada de presidentes de assembleias litúrgicas, mas sim de sacerdotes católicos fiéis à tradição da única Igreja de Cristo).

Por seu turno, o actual Bispo de Coimbra, D. Albino Cleto, numas declarações inauditamente agressivas e rancorosas, apelidou os fiéis da tradição de românticos, e tentou de modo abusivo e usurpatório fazer uma interpretação restritiva do Motu Proprio papal, sustentando que nenhum sacerdote pode ser obrigado a celebrar a Missa tradicional, visando assim inverter a finalidade daquele e fazer tábua-rasa dos seus objectivos.

D. Albino Cleto foi ainda mais longe na sua fúria e afirmou que em Portugal, infelizmente - e realçou o infelizmente -, cerca de metade dos sacerdotes em funções ainda chegou a celebrar o rito tradicional na língua latina. Pergunta-se: o Bispo de Coimbra também julga infeliz o cânone 9º, da XXII Sessão do Concílio Apostólico Dogmático de Trento, que anatematiza todos os que defendem que a Missa deve ser celebrada exclusivamente em línguas vernáculas?

Na verdade, os Senhores Bispos não atingem aquilo que é fundamental nesta questão, dado o seu entendimento estar completamente turvado pelo pensamento herético modernista e progressista, ou seja, ao invés do que sustentam, o que está em causa não é uma mera questão linguística de latim contra vernáculo (no que são secundados por alguns ignorantes desprezíveis na comunicação social e na blogosfera), mas antes a contraposição entre o rito tradicional latino-gregoriano, tridentino ou de São Pio V e o rito reformado de Paulo VI, isto é, entre um rito que enfatiza em pleno as todas verdades fundamentais da fé católica sobre a Missa a um outro que, cedendo fortemente à heresia protestante, minimiza e obnubila essa verdades, sem prejuízo da sua validade formal.

É certo que a utilização da língua latina na liturgia tradicional da Igreja do Ocidente não é despicienda, pois o desenvolvimento orgânico desta última processou-se inteiramente sob o influxo de tal língua, motivo por que a Igreja não abandonou a sua utilização quando a mesma caiu em desuso na vida quotidiana, visando dessa forma salvaguardar a unidade do culto e preservá-lo das corrupções provocadas pelo emprego do vernáculo; porém, não é o latim cerne desta questão da opção entre o rito litúrgico tradicional e o reformado, porquanto a mesma não é meramente linguística, mas antes eminentemente doutrinária e de primordial interesse para a Igreja, já que a Missa é o centro nevrálgico do culto religioso cristão, de onde irradia toda a restante vida eclesial.

De tudo isto tem muito mais clara compreensão Sua Santidade o Papa Bento XVI do que os Bispos portugueses, como se comprova pelas passagens que a seguir se transcrevem da missiva por ele dirigida também a estes últimos.

Primeiro:

Logo a seguir ao Concílio Vaticano II podia-se supor que o pedido do uso do Missal de 1962 se limitasse à geração mais idosa que tinha crescido com ele, mas entretanto vê-se claramente que também pessoas jovens descobrem esta forma litúrgica, sentem-se atraídas por ela e nela encontram uma forma, que lhes resulta particularmente apropriada, de encontro com o Mistério da Santíssima Eucaristia. Surgiu assim a necessidade duma regulamentação jurídica mais clara, que, no tempo do Motu Proprio de 1988, não era previsível; estas Normas pretendem também libertar os Bispos do dever de avaliar sempre de novo como hão-de responder às diversas situações.

E ainda:

É verdade que não faltam exageros e algumas vezes aspectos sociais indevidamente vinculados com a atitude de fiéis ligados à antiga tradição litúrgica latina. A vossa caridade e prudência pastoral hão-de ser estímulo e guia para um aperfeiçoamento. Aliás, as duas Formas do uso do Rito Romano podem enriquecer-se mutuamente: no Missal antigo poderão e deverão ser inseridos novos santos e alguns dos novos prefácios. A Comissão «Ecclesia Dei», em contacto com os diversos entes devotados ao usus antiquior, estudará as possibilidades práticas de o fazer. E, na celebração da Missa segundo o Missal de Paulo VI, poder-se-á manifestar, de maneira mais intensa do que frequentemente tem acontecido até agora, aquela sacralidade que atrai muitos para o uso antigo. A garantia mais segura que há de o Missal de Paulo VI poder unir as comunidades paroquiais e ser amado por elas é celebrar com grande reverência em conformidade com as rubricas; isto torna visível a riqueza espiritual e a profundidade teológica deste Missal.

De facto, como bem salienta a "Gazeta da Restauração", o problema dos Bispos portugueses é apenas um: saberem quem é o Papa que têm e detestarem-no; saberem-no católico e com a determinação de restaurar a Igreja Católica, enquanto eles pretendem permanecer tão-só hereges obstinados adoradores do homem e não de Deus.

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